domingo, 1 de maio de 2016

Livro: UMA COISA DE NADA - Mark Haddon

Para aqueles amantes de leitura que seguem o Último Ato - não desespereis! As resenhas de livros continuarão por aqui! hahaha

Como resultado direto da Bienal do Livro de Belo Horizonte, como vocês já viram anteriormente, eu voltei para casa com uma boa quantidade de livros. Um deles, entretanto, me despertou uma atenção maior - claro que eu fiquei apaixonada por todos que trouxe - porém esse foi um pouquinho diferente.

Digo porque infelizmente não filmei esses momentos, mas foi algo que não tinha acontecido antes. Eu vi ele pela primeira vez, li a sinopse e pensei "há, ok", devolvendo-o para a prateleira. Na segunda vez, fiquei menos exigente com ele, e na terceira vez que o peguei nas mãos, havia decidido que não sairia de lá sem ele.

É o tipo de livro que a gente compra quase sem querer e se surpreende além do comum. Vamos falar então de Uma Coisa de Nada, do autor Mark Haddon.


Resenha Último Ato!


  • Título Original: A spot of bother
  • Autor: Mark Haddon
  • Editora: Record
  • 478 Páginas
  • 2006
Sinopse:
"George Hall anda desiludido com a vida. Aposentado, ele agora ocupa os dias com uma obra no jardim de casa. A esposa Jean, no entanto, torce o nariz por ter o marido sempre por perto. É que os encontros com o amante estão se tornando cada vez mais raros. Não bastassem os problemas pessoais do casal, a notícia de que a filha está para casar desestabiliza ainda mais a família. Além disso, o filho parece ter dificuldades em assumir um relacionamento amoroso."
Eu sei, eu sei. A gente não dá quase nada por essa sinopse. Devo admitir que quando a li pela primeira vez, logo achei que seria um romance melado qualquer como desses que vende igual água, e foi por isso que o coloquei de volta em seu lugar na prateleira rapidinho.

Não sei o que me fez decidir trazer ele, só sei que trouxe. E das compras que fiz na Bienal, esse foi o primeiro que peguei para ler. Não era ainda o mais chamativo - não para quem trouxe também Agatha Christie, Game of Thrones, entre outros - mesmo assim resolvi dar uma chance a ele.

No começo, me senti lendo uma versão de "As Doze Tribos de Hattie" (para resenha dele, clique aqui) que se passa na Inglaterra. Digo isso porque em cada capítulo vamos conhecendo um pouco da rotina de cada personagem principal, mas diferentemente do livro de Ayana, eu não me senti perdida nesse. No dela, o tempo parecia voar em cada capítulo, como disse na resenha que fiz para este livro, já no de Mark é tudo bem detalhado, bem explicado.

Quando fui me afundando mais na leitura, senti receio de ser de verdade desse tipo de livro que vende igual água - temos algumas cenas de sexo explícito, mas continuei na leitura, querendo saber o que aconteceria. Talvez tenha entrado ai o dom de Mark - por mais que você queira estrangular algum de seus personagens, você não consegue largar o livro. Mencionando eles, vamos conhecer um pouco de cada um dessa família que vocês já viram pela sinopse, é bem diferente.


  • George - Pai. Acaba de se aposentar e quer a todo custo construir seu estúdio nos fundos da casa, para poder voltar a pintar. Ele tem uns problemas que aos poucos vão afetando profundamente seu psicológico.
  • Jean - Esposa de George. Trai o marido com o ex colega de trabalho dele. (Simples assim).
  • Jamie - Filho de Jean e George. É homossexual, vive com o namorado Tony - distante da família - e tem um certo problema em assumir seu compromisso com Tony.
  • Katie - Filha de George e Jean. Está prestes a se casar com Ray - a qual também tem todas as suas dúvidas - e tem um filho chamado Jacob do primeiro casamento.
Já na biografia do ator pode-se ver que Uma Coisa de Nada é um livro adulto - mas as cenas de sexo somem na mesma velocidade que apareceram. Os capítulos são bem curtos e isso é uma vantagem enorme para quem não tem o costume de ler e pretende começar já com um livro bom.

A evolução que Mark nos mostra de como George é afetado pelos seus medos, e como isso mistura com sua capacidade de interiorizar as dores que sente, sem colocar para fora aquilo, é fora do comum. Eu realmente não lembro de ter lido algo semelhante em todo esse tempo, e devo ressaltar que esse livro é muito pesado, ele nos coloca ali no lugar do protagonista, nos faz sofrer junto.

Para aqueles que vão ler, prestem atenção: vão com calma com o capítulo 60. (Desculpa, eu precisava ressaltar isso).

Eu gostaria de dizer que inevitavelmente eu acabo me apegando mais a um personagem que a outros, e nesse livro não foi de um todo diferente. Me apaixonei por Jamie e como ele consegue respirar fundo, segurar seus problemas e dizer: vamos lá, posso ajudar vocês. O noivo de Katie chega em uma cena a dizer a George que ele é a pessoa mais sã de todas, mas definitivamente eu dou esse título a Jamie.

Já a personagem que não consegui gostar muito é a esposa de George. Não só pelo fato de ela ver o marido definhando, precisando de ajuda e se sentindo mal toda vez que ele apresentava alguma melhora - olha esse ser humano! - como muitas vezes eu notei que ela gostaria que todos ao seu redor fossem iguais a ela. Se ela estava infeliz, ficava com uma certa raiva de ver alguém perto de si contente. Posso dizer isso sobre sua reação diante ao futuro casamento da filha, tive a impressão que ela desejava que tudo desse errado a qualquer momento.

Há um capítulo sensacional que nos mostra muito bem como a mente de George chega a um ponto tão caótico que ele não consegue pensar direito. Esse capítulo tem apenas um parágrafo, ocupa uma página e meia e tem tanta coisa junta, sem vírgulas suficientes, sem pausa, só ideias jogadas, cuspidas, sem sentido. Você se sente George, sem rumo.

Esse livro é o exemplo clássico de que exteriorizar os problemas ajuda tanto minimizar o efeito deles na pessoa e os tornar suportáveis, quanto pode talvez curar o efeito deles de uma vez. Se for procurar uma terapia - o que é bom, inclusive é excelente que o senso comum de que "psicólogos são apenas para doidos" seja extinto - continue com ela. Não a interrompa. Siga até o final. George parecia apenas precisar de uma pessoa que sentasse com ele e o ouvisse, sem interromper, sobre tudo que o angustiava. Ele precisava de uma caminhada, de uma atenção, de não se sentir isolado, doente, um ser humano que não mais servia para nada.

É, como eu disse, um livro forte, pesado. Compensou as três vezes que fui atrás dele, compensou cada minuto, cada hora que gastei nele. Recomendo pelo estilo do autor, pela escrita, pelo tema, pela humanidade que tem nessa história, mas recomendo principalmente para que a gente possa começar a enxergar os Georges que estão ao nosso redor, para darmos atenção a eles, compreendê-los.

Eu sinceramente não sei nem como finalizar essa resenha, apenas quero ressaltar que vale a pena ler este livro de Mark. É bom que ele choca, e o bom de ver a realidade de forma chocante é que passamos a não duvidar tanto de que aquilo que acontece com os outros pode também acontecer com a gente.

É isso meus amores, nos vemos no próximo post! Tenham uma ótima leitura e uma ótima semana!




Onde comprar:

0 comentários:

Postar um comentário

Comente! Sua opinião é importante para nós!

A equipe responderá todos os comentários assim que possível. =)
Comentários ofensivos serão apagados e seus usuários denunciados.