quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Filme: O GRANDE DITADOR - Charles Chaplin

Olá pessoas, como vocês estão? Espero que muito bem. Hoje vamos mais uma vez falar de Chaplin, que como quem acompanha o blog há algum tempo sabe, é uma pessoa que admiro muitíssimo. Bora lá?






Título: O Grande Ditador
Título original: The Great Dictator
Ano: 1940
Direção: Charles Chaplin
Gênero: Comédia dramática, sátira crítica
P&B - 124 min








"Esta é a história do período entre duas guerras mundiais, quando a loucura se espalhou, a liberdade foi ameaçada e a humanidade pereceu."
Já no começo somos apresentados ao carismático barbeiro judeu (Chaplin), nas batalhas da Primeira Guerra Mundial. Ele, embora meio atrapalhado, está lutando em nome de seu país, Tomânia, e acaba se vendo envolvido na tentativa de salvar o comandante Schultz (Reginald Gardiner), que precisa levar uns documentos até os superiores, documentos esses que podem levar a vitória a nação.


Porém um acidente acontece e o querido babeiro perde a memória, indo parar por anos em um hospital. Enquanto isso, um ditador toma o poder da Tomânia, um homem bem parecido fisicamente com o barbeiro, mas em nada agradável como ele. Seu nome é Adenoid Hynkel (Chaplin), um homem de discursos fortes e intimidadores, que pretende construir uma nação pura.

De volta à sua barbearia, nosso querido judeu não entende como "a deixou há poucos dias" e agora ela possui teias de aranha até no teto. Tudo que aconteceu depois de sua internação anos e anos atrás, foi ignorado graças a sua amnésia. Agora os judeus não mais possuem direitos, estão reunidos em um gueto e em sob constante ameaça e crescente pobreza.

Em seu retorno, o barbeiro conhece a jovem e doce Hannah (Paullete Goddard), que demonstra uma coragem imensa e a revolta diante do que estão sendo obrigados a passar. Ela é uma mulher forte, batalhadora, e a todo tempo demonstra uma determinação única.

Imagem: Giphy
É importante antes de qualquer coisa, deixar claro o quanto esse filme é valioso, importante e... perigoso. Perigoso porque dadas as circunstâncias, Chaplin arriscou-se muito fazendo uma sátira dessas, bem enquanto a paz estava por um fio. Ele começou as filmagens em 1939, antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial. Hitler estava no auge de sua popularidade, assim como Mussolini, e ninguém ousava apontar dedos e procurar culpados. 

Ninguém, exceto Chaplin.

Podemos ver a fidelidade com o que estava de fato acontecendo. Claro que Chaplin não usou os nomes verdadeiros dos envolvidos, mas de fato não precisava. Seus discursos como Hynkel, o ditador, em seu tom de voz imponente e forte, seu gesticular com o punho sempre à frente do corpo, mãos para o alto e expressão séria de quem não estava ali para brincar: era Hitler na tela.

O discurso de Hynkel nos entrega palavras não compreensíveis, de um idioma próprio de Chaplin, mas que não deixa em nada de se parecer com o alemão. Algumas palavras em inglês, uma tradutora que só conhecemos pela voz e voilá: "Liberdade de opinião é odiosa!", diz o ditador da Tomânia. Todos os elementos estão ali: os gestos carinhosos e orgulhosos que demonstram força quando se fala dos arianos, e o discurso agressivo onde até os próprios microfones se afastam com medo do locutor quando os judeus são mencionados. E Chaplin foi além.

Imagem: Tenor Gif Keyboard
Desde a arquitetura ("O Pensador de Amanhã" é genial), até quem cerca o temido ditador, tudo remete ao regime nazista. A suástica virou dupla cruz, Adolf Hitler é Adenoid Hynkel, Tomânia, nada mais que Alemanha. Temos ainda Joseph Goebbels representado por Garbitsch, Hermann Goering por Herring, Áustria chamada de Austerlich e sim, Benito Mussolini virou Benzino Napaloni.

Jack Oakie (Napaloni) também parece fisicamente com Mussolini, o que deixa a referência ainda mais clara. As cenas onde ele está junto a Hynkel demonstra a grande busca pelo poder, ao mesmo tempo em que se quer demonstrar força, mas sem demonstrar todo o temor de que o inimigo tire vantagem. Chaplin ainda nos apresenta à contradição no que Hitler mais visava com sua política antissemita: desejar uma nação de loiros com olhos azuis sendo um homem de cabelos negros e sequer nascido naquele país. 

Naquela época - mesmo quando o filme foi lançado, depois do começo da segunda guerra, em outubro de 1940 - ainda não era de conhecimento público o objetivo real dos campos de concentração, tudo que as pessoas sabiam, pelo menos as que sabiam da existência deles, era que nada mais eram que campos de trabalho, com todas as possíveis condições de sobrevivência. Ao tomar conhecimento de sua real finalidade, Chaplin diz ter se arrependido de tê-los acrescentado ao filme.

Era uma pesquisa à fundo: ali, no começo da guerra que durou meia década, Chaplin já estava criticando o poder absoluto, já mencionava os campos de concentração, o gás mortífero, os testes de armas e desfiles militares com grande poder de fogo. Era um visionário, era um alerta do que estava para acontecer. 

Imagem: Tumblr
O Grande Ditador é o primeiro filme inteiramente com som de Chaplin, que cedeu após 13 anos do lançamento do primeiro filme falado do cinema, The Jazz Singer. Já que era para falar, que dissesse algo importante, assim como ele já fazia em suas produções mudas. Porém, por mais que o discurso final de cinco minutos seja um sermão incrível sobre os perigos de um poder totalitário, ele diz tanto quanto a cena em que o ditador Hynkel dança com o globo terrestre em mãos, e essa cena só tem Chaplin e uma trilha sonora como acompanhamento.

Ele leva o globo para um lado, para outro, brinca com ele, chama-o de "seu mundo". Visa ser o imperador do mundo, visa poder total sobre todo e qualquer ser no planeta. Chaplin representa ali perfeitamente a que ponto essa obsessão, essa loucura pode atingir a pessoa, e por mais que o final da cena nos arranque risadas ao vermos Hynkel chorar quando seu globo estoura, refletimos sobre o que de fato permitimos que acontecesse ao mundo. 

Será que ainda veremos mais Hynkels por ai? Já não tivemos o bastante? O que afinal será de nós se as escolhas de representantes continuarem sendo feitas sem fundamento, sem uma visão crítica do que pode vir a acontecer amanhã...? É, esse filme nos faz de fato refletir muito.

Imagem: Tumblr
O Grande Ditador recebeu cinco indicações ao Oscar de 1941 nas categorias de melhor filme, melhor ator para Charlie Chaplin, melhor roteiro original, melhor trilha sonora e melhor ator coadjuvante para Jack Oakie.

Gerou bastante dor de cabeça para Chaplin também (não é para menos), e eu ainda me pergunto se Hitler chegou a assisti-lo. O filme chegou a ser proibido em alguns lugares da Europa. É uma obra prima que vale a pena por cada segundo. Recomendo para quem não viu, e quem já assistiu, rever. 

Por hoje vou ficando por aqui, antes que eu empolgue mais na resenha hahaha. Nos vemos no próximo post, meus queridos! Até lá e bom filme!

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Abaixo, para quem quiser dar uma olhadinha, o discurso final do filme.

4 comentários:

  1. O Grande Ditar poderia dar lugar ao título de "O Grande Orador" após o discurso final de Chaplin, a seriedade, a expressividade, discurso esse que deveria ser exibido todos os dias pois continua tão atual quanto na época.
    O que falar sobre Chaplin que não seja repetitivo, pra mim, Chaplin tornou o cinema mudo tão audível, suas expressões falavam por si só, seus olhares, simplesmente incrível.
    O filme é incrível, a genialidade de Chaplin ao satirizar o tão desprezível "Fürrer" é de uma insanidade tamanha e ele o faz com tanta maestria que apesar de temas sérios abordados, alguns ainda desconhecidos como a Anny nos disse, Chaplin consegue sempre arrancar de nossas bocas um sorriso. Se vc ainda não assistiu eu indico muito esse grande filme.
    PS - Impossível não dar risada com o nome fictício de Mussolini (Benzino Napaloni).
    Ótima resenha Anny, vc sempre nos surpreendendo com filmes e livros maravilhosos. Nos vemos no próximo post, até logo pessoinha.

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    1. hahaha eu sempre que falo de Napaloni, lembro da cena da chegada dele no trem, e ele gritando nervoso "what are you doing, salame?" haha
      "Tornou o cinema mudo tão audível" que lindo ler isso, Fred. De fato Chaplin fez coisas que a gente duvida até hoje. Ele é um mártir!
      Obrigada pelo comentário, bacana como sempre. Te vejo no post novo <3

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  2. Como você apontou, Chaplin, como sempre, foi muito visionario e teve coragem. As criticas são feitas de maneira que fica claro o que ele quer mostrar, sempre com aquele humor peculiar. O triste é perceber o quanto o filme ainda é atual.

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    Respostas
    1. Pois é, doi no coração ver esse discurso final e notar que mesmo depois desses anos todos, ainda precisamos aprender muito. É complicado, né? Um passo de cada vez hahaha
      Obrigada pelo comentário, Tony <3

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