domingo, 19 de novembro de 2017

Livro: QUASE MEMÓRIA - Carlos Heitor Cony

Da série "coisas que as pessoas sempre falam em seus pré julgamentos sobre a personalidade do outro": "Ué Anny, você está lendo livros brasileiros? Justo você?"

Vamos lá.

Resenha Último Ato!
  • Título: Quase Memória
  • Autor: Carlos Heitor Cony
  • Editora: Nova Fronteira/TAG
  • 272 Páginas
  • 1ª Edição – 2017
Sinopse:

Quase Memória explora o território situado entre a memória e a ficcção a partir de um punhado de recordações do narrador-autor. Neles, a figura de Ernesto Cony, seu pai, é o centro e a motivação para o exercício das lembranças que, constantemente, adquirem contornos do imaginário. Nostalgia, cumplicidade, vergonha, saudade: os mais diversos sentimentos despertados pelo recebimento de um misterioso pacote sem remetente.Publicado em 1995, Quase Memória marcou a volta de Carlos Heitor Cony aos romances, após um hiato de mais de vinte anos. O livro recebeu importantes prêmios literários no Brasil e, mais do que isso, conquistou o coração de milhares de leitores desde seu lançamento.

Sim, de certa forma quem disse que é estranho me ver lendo um livro nacional, acertou. Mas eu falarei depois em um post separado sobre a imagem que as pessoas fazem dos outros a partir de como elas querem ver esses outros, e não como realmente são. 

Livros como A Droga da Obediência são livros que me atraem muito, aliás, coloque Quase Memória nesta lista. Minha "birra" com muitos livros da nossa rica literatura vem de um método de ensino que a maioria dos brasileiros teve que passar: o obrigar a ler algo para fazer uma prova ou qualquer outra coisa também obrigatória, e não incentivar a leitura dessa mesma coisa. Como eu disse, falarei disso mais tarde, por isso não irei me estender mais neste assunto por agora. Vamos falar do que importa, dessa obra maravilhosa de Carlos Heitor Cony.

É 1995 quando Carlos está indo ao hotel que almoça algumas vezes durante a semana. Não é um lugar onde ele é conhecido, mas certo dia tem um pacote esperando por ele lá. Ele começa a pensar como alguém o conhecia ali, e mais, como alguém sabia que ele frequentava aquele local. 

Tudo bem, mas desconfianças à parte, o que chama mais a atenção de Carlos é o pacote em si. Aquele pacote tem em cada detalhe o registro de seu pai. Os cheiros da brilhantina, da tão amada manga, a caligrafia, o nó perfeitamente dado, até a forma como o papel foi dobrado, seu pai está por inteiro registrado ali. Tudo estaria certo se seu pai já não tivesse falecido fazia dez anos.

Imagem "gentilmente roubada" do TAG - Experiências Literárias
www.taglivros.com
Carlos vai para seu escritório, coloca o livro sobre a mesa e começa a observá-lo atentamente, deixando as memórias, ou quase memórias, do pai e de sua infância, surgirem naturalmente. Desde a cumplicidade de um com o outro quando faziam balões para a festa junina, sua infância no seminário, etc. Mas então você pergunta: por qual motivo o livro se chama "Quase Memórias" e não apenas "Memórias"? É aí que entra a mágica da obra.

O livro é um relato de quase memória, é também um quase romance, porque muito do que foi dito pode ter acontecido ou não. Ou pode ter acontecido, mas com um ponto a menos. Há personagens reais e outros nem tanto. Há muita imaginação e histórias gostosas de ler. As memórias são livres: Cony as modifica, as desenha a seu modo.

Quando você conta uma memória, ela nunca será repetida da mesma forma, e é disso que se trata o livro. A forma como Carlos lembra de seu pai é única, é dele. A capacidade do pai de sempre se reinventar e de ter certeza que o amanhã é dia de fazer coisas grandes, mesmo que não faça coisas grandes, pode ser só de Carlos, é dele, é única. 

A ideia da história veio de um sonho que ele teve em que recebia o pacote do pai, e o livro além de passar muito rápido - o li inteiro no feriado de finados - tem referências incríveis, desde Sherlock Holmes a Debussy, passando pela história do Brasil de uma forma rica, nos situando maravilhosamente no tempo. Ainda não li outras obras de Carlos, mas devo dizer que este livro me instigou a isso, definitivamente.

Carlos Heitor Cony, imagem de: Pensador.
Eu sou uma pessoa que ama ouvir a história dos outros, e não digo isso da boca pra fora. Sentar em uma mesa, com café recém feito e conversar com alguém que muito viveu, que esteja disposto a me contar sobre o que passou até chegar ali é fascinante. Recentemente fiz isso com a mãe de uma colega e saí de lá revigorada, com novos olhares sobre as pessoas e o mundo.

As quase memórias de Carlos me deixou com o mesmo sentimento. Eu não conseguia parar de ler, era como se eu estivesse sentada com ele e ele me contava aquilo pessoalmente. O seminário, as mangas roubadas no cemitério, enfim.

Não posso deixar de falar sobre o cuidado e a delicadeza da TAG com essa edição. A manga em relevo na capa, os balões na folha de guarda, a caixinha que guarda o livro como o pacote que Carlos havia recebido, não há igual. Recomendo para quem não leu o livro, que leia, de verdade. É uma história muito bacana de se conhecer e muito rica de detalhes maravilhosos. 

Bom, fico aqui com essa resenha gostosa de fazer (ou quase resenha, eis a questão hahaha) e deixo um convite para nos encontrarmos na próxima. 

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Até o próximo!

10 comentários:

  1. É impressionante como as suas resenhas faz refletir e ficar curioso ao mesmo tempo kkkkk. Adorei! E a piada ao final foi a melho. Tô deixando o meu "quase comentario". Haha

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    1. Ahh!! Gente, muito obrigada, Tony! Fico feliz demais que esteja gostando das minhas resenhas, eu faço com muito carinho <3 haja obrigada pelo Quase Comentário!

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  2. Ouvir memórias de pessoas bem vividas é mesmo muito bom, mal posso esperar para visitar meus avós!
    "Quando você conta uma memória, ela nunca será repetida da mesma forma..." Isso é muito verdade, só que tem seu lado ruim, nas escolas ao estudar História sempre suspeitei um bocadinho dos livros do governo. Sei lá, loucura minha, ou não...
    Gostei muito da resenha, é mais um na minha lista de livros para ler!

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    1. Ahahaha questionar é sempre necessário! Principalmente o que retrata nossa história. Visitar os avós é sempre bom, e ouvir as historias deles é melhor ainda! Que bom que gostou Danilo, muito obrigada pelo comentário, tenha uma ótima leitura!!

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  3. Mais uma resenha ou quase resenha que faz com que tenhamos vontade de ler, de conhecer um pouco a obra em questão O jeito com que escreve é como se estivéssemos sentados à mesa, uma conversa Quase que pessoal. As lembranças entrelaçadas a imaginação narradas pelo autor em "Quase Memória" é instigante, aliado ao seu jeito de nós conduzir pela história do autor, claro, com seu ponto de vista, faz nascer/crescer a vontade de conhecer tal obra em detalhes.
    Parabéns mais uma vez por outra incrível resenha.

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    1. Nada tão gostoso e gratificante quanto ler um comentário desses... Muito obrigada, de verdade, do fundo do coração. Fico imensamente feliz em saber que estou conseguindo passar a mensagem daquilo que leio, e o amor que tenho em escrever essas resenhas aqui no meu cantinho. Não sei como agradecer seu comentário!! <3

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  4. Uma resenha que nos inspira a vontade de ler mais e se prender em um mundo diferente e que nos identificamos. Adorei, parabéns!

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  5. Essa resenha tá tão boa, que fiquei curiosa para ler esse livro e olha que ultimamente não tenho lido muitos livros a não ser os da faculdade. Vou tentar achar para ler. Bjs

    http://atrasdorimelblog.blogspot.com

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    1. Faculdade é complicado mesmo! Sei bem como é isso hahaha
      Obrigada Priscilla, fico feliz que tenha gostado!

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