quarta-feira, 21 de março de 2018

Livro: MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS - Manuel Antônio de Almeida

É com um imenso prazer que estou trazendo hoje uma resenha desta obra que me arrancou muitas risadas. Não sei se estou mais feliz de estar aqui agora contando que finalmente a li, ou se é porque eu me permiti arriscar tudo em um livro com uma história antes não muito boa comigo...

Resenha Último Ato!
  • Título: Memórias de um Sargento de Milícias
  • Autor: Manuel Antônio de Almeida
  • Editora: Ciranda Cultural
  • 160 Páginas
  • 1ª Edição – 2010
Sinopse:
Em Memórias de um Sargento de Milícias, figura como protagonista não o típico herói romântico, mas como bem indicou Antonio Candido, em seu livro Dialética da Malandragem, "o primeiro grande malandro da novelística brasileira". O romance de Manuel Antônio de Almeida narra as peripécias de Leonardo, filho de Leonardo-Pataca e Maria-da-Hortaliça, e por meio delas retrata com cinismo e comicidade a sociedade carioca da primeira metade do século XIX.
Maria-da-Hortaliça e Leonardo-Pataca se conhecem na ida de Portugal ao Rio de Janeiro, e é por meio de beliscões e pisadas no pé que eles engatam um romance. É então que vem a nascer Leonardo, o nosso herói - ou malandro - da história. 

Não demora muito para as brigas relacionadas a ciúmes começarem a acontecer, até que em um dia que Leonardo-Pataca dá ao filho um tremendo pontapé para fora de casa e Maria foge com o capitão de um navio deixando a família para trás. Leonardo, agora abandonado pelos pais e aos cuidados do padrinho de batismo, se mostra uma criança completamente bagunceira. Diabruras para todos os lados, da escola até em casa. O padrinho, por sua vez, não o vê como um menino em um estado preocupante: por ser seu tutor está sempre achando que Leonardo é na verdade, um garoto de ouro e ainda nutre a ideia de que ele irá virar padre.

O livro originalmente foi publicado em formato de folhetim entre 1852 e 1853 no Correio Mercantil (e de forma anônima!) por isso seus capítulos são bem curtinhos. Alguns concluem a história neles iniciada, outros deixam em aberto para a próxima parte, e se era de fato para aguçar nossa curiosidade, atingiu o objetivo.

O pai de Leonardo, Leonardo-Pataca se envolve com uma cigana e acaba ficando à beira da loucura quando sua amada o abandona - indo parar até na casa de um velho cheio dos rituais dos mais diversos que prometiam trazer a amada de volta se todos fossem cumpridos da forma certa. O que Leonardo-Pataca não esperava era que o major Vidigal aparecesse e o prendesse.

Manuel Antônio de Almeida. Imagem: Skoob.
O livro se divide em duas partes tendo a primeira 24 e a segunda 25 capítulos. É uma das obras percursoras do Realismo no Brasil, por não possuir todos aqueles elementos do romantismo da época: sem toda aquela idealização da mulher, do romance em si... É algo inclusive feito mais para o povo, com uma linguagem direta para o povo. Sua autoria só foi revelada após a morte de Manuel.

Sobre o autor, ele nasceu em 1831 e formou-se em medicina. Como não havia condições financeiras suficientes para exercer a profissão, ele acabou tornando-se revisor e redator do Correio Mercantil, onde publicou a história.

Há frases no livro que jamais me deixarão esquecê-las, como em um momento onde o narrador diz que os jovens endiabrados, bagunceiros, que aprontam bastante hoje, serão os "velhos" que criticam os jovens que fazem o mesmo amanhã. São coisas que parecem óbvias, mas ao refletirmos sobre, demonstram suas particularidades.

Claramente eu não vou deixar de falar sobre o motivo da minha felicidade ao ler o livro. Recentemente eu fiz uma publicação questionando o método de ensino que eu fui submetida ao conhecer obras clássicas brasileiras e consequentemente o seu resultado trágico. A educação pressiona ou incentiva a leitura? Você pode ler esta matéria clicando aqui. E cheguei a uma conclusão muito interessante.

Correio Mercantil, 01 de Agosto de 1808. Imagem: Estrelas que nunca se apagam.
Memórias de um Sargento de Milícias é um dos livros responsáveis por meu bloqueio para/com a literatura brasileira clássica. Eu comprei essa edição simples da Ciranda Cultural - bem simples mesmo, um leve abrir de páginas mais forte e algumas começaram a se desprender, sem orelhas, folhas finíssimas e acinzentadas, parecendo aqueles livrinhos de banca de jornal - justamente para ver se com um incentivo certo eu conseguiria levar a leitura até o final.

Não há como negar ou fingir que não: no começo eu queria abandonar o livro e essa ideia de que eu conseguiria algum dia ler algo do tipo. Desejei sim nunca ter começado. Mas respirei fundo, dei tempo ao tempo, botei o dicionário debaixo do braço e dei mais uma chance para a leitura.

A escrita é complicada, é mais difícil sim. Porém, nada que um dicionário - ou Google, a escolha é sua - não resolva. Quando a leitura foi engatando, eu relaxei com o texto e me permiti aproveitá-lo ao máximo. Dei risada em muitas cenas, e amei cada um dos personagens. Leonardo filho principalmente - hahaha.

Valeu muitíssimo a pena ter tentado, e isso provou para mim que a minha ideia de que com o incentivo certo a gente move montanhas, é verdadeira. Eu gostaria de dizer mais uma coisa aqui sobre o método da professora ao quase enfiar esse livro na minha goela na minha cabeça sem parecer que queria que ele fosse tão prazeroso quanto foi agora, seis anos depois, mas acho que lê-lo e me divertir com seu conteúdo já disse o suficiente para encerrar o assunto.


A narrativa se passa no começo do século XIX, época de D. João VI. Conhecemos muito bem o cenário o qual o livro está inserido, desde a educação (a temida palmatória com os alunos que faziam traquinagens), os costumes da corte, polícia, conhecemos sobre as construções - e eu jamais esquecerei a palavra "rótula" ou a "postiga" haha - e claro, a religião e todas as suas celebrações.

E aquela ideia de vizinhança se unindo para falar sobre os demais... Sim, temos muitas e muitas delas na história. É um ótimo livro para conhecer mais da sociedade da época, conhecer sobre o Realismo Brasileiro e ainda dar muitas risadas com os personagens. É um quase romance sem toda aquela idealização. Recomendo muitíssimo para quem quer entrar no mundo da literatura clássica brasileira e para quem já vive nele há muito tempo. 

E além dessa história incrível lida hoje, tiramos mais uma lição: arrisque em livros que não acha que leria geralmente. A surpresa pode ser tão boa quanto essa que Manuel Antônio de Almeida me deu!

Por hoje é só, espero que tenham gostado! Nos vemos no próximo, até lá!!

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4 comentários:

  1. O livro me interessou muito, essa ideia de publica-lo aos poucos no jornal é muito boa, não sei se fazem isso ainda.
    Me interessei também por estar ultimamente procurando conhecer mais o século XIX.
    Valeu, Anny! :)

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    1. Não posso te dizer com certeza se ainda se faz isso, porque vai saber se ainda existe, não é? Mas que seria genial continuarem, seria.
      Esse livro é ótimo, espero que você goste!

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  2. Amei a resenha, o livro me interessou muito pelo fato de ser realismo brasileiro, com um linguajar mais popular. E ainda bem que conseguiu superar o seu bloqueio, amadurecendo a sua tese.

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    1. E a vontade de ir lá levar o post para a responsável pelo bloqueio? KKKKKKKK Não falta!

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